Elite intelectual

Economia é para a elite, não para o povão

Sou economista há alguns anos, e lembro que desde o primeiro livro de economia que li, em 2017, e comecei me interessar seriamente, percebo que opiniões sem nenhum embasamento em matéria de economia é mais comum do que se pensa. Ninguém se mete a abrir a boca cheia para falar de física quântica ou engenharia ambiental, mas para falar de qualquer conceito econômico, qualquer um é especialista..

No entanto, em matéria de Ciência Econômica, o que mais se vê são bostejamentos em forma de opinião. Isso se deve ao problema da ligação da Economia com a política cotidiana. As pessoas colocam sua opinião sobre a novela e as polêmicas pessoais dos políticos na mesma caixa de assuntos econômicos.

A economia não é para o povão intelectual, mas sim para a elite. Elite financeira? Não, a elite da honestidade. É simples: li 1 livro de macroeconomia, falo; nunca li nada, fico quieto. Meu desejo, na verdade, é que todos participem dessa elite. A Ciência Econômica é cativante, e espero que estudem cada vez mais.

Da mesma forma que quando um médico vê alguém tomando más decisões para sua saúde, seu papel é instruir ou intervir na vida dessa pessoa, eu, como economista, tenho o papel de instruir as pessoas para que menos problemas tenham por falta de conhecimento. O artigo não é nenhum guia de estudos, apenas uma simples passada de pincel atrás de você em alguns pontos comuns.

Os burros

Acredito que nem 1% da população brasileira já tenha aberto 1 único livro de economia em toda a vida, mas se perguntar a 99% sobre políticas públicas, tanto no campo fiscal quanto no monetário, eles te darão respostas calorosas e bem firmes. 

Da mesma forma que quando se fala de física quântica ou geometria espacial, quem não sabe deveria se retirar à própria insignificância (como é o meu caso em matéria de biologia, matemática e física), quando o assunto é Economia, deveria ser incentivado pela sociedade que quem não sabe do que fala seja calado fisicamente.

Isso significa que quem discordar do que eu acredito deve ser calado? Muito pelo contrário. Da mesma forma que digo que quem não sabe o que fala deve se calar, quem sabe, deve ensinar. Quem ensinar? Só economistas austríacos como eu? Não, todos os que são apaixonados pela ciência que eu amo. Sendo assim, dedico este artigo à mostrar alguns erros comuns na sociedade de QI de temperatura ambiente (QI 23, 25).

Poderá ver alguma semelhança neste artigo ao livro Economia Numa Única Lição, de Henry Hazlitt, do qual tem o resumo completo aqui no site.

Infraestrutura

Não existe crença mais empreguinada no imaginário econômico geral que a de que o gastos do governo são essenciais. Sem o governo, quem faria hospitais ou pavimentaria as ruas? Geralmente quem tem esse pensamento, vê o mundo de acordo com o que vê em seu dia a dia. E por isso não os culpo, já que é normal acharmos correto o que estamos acostumados a ver.

É normal pensarmos que no Brasil, um país de dimensões continentais, não existir um órgão central regulador, tudo viraria uma bagunça. Aqui neste site defendo há alguns anos o direito da secessão dos povos. Se São Paulo quer virar um país, por que não? O Sul a mesma coisa. E porque isso geraria problemas? O problema seria que as coisas entrariam no eixo, mas isso é assunto para outro artigo.

Voltando ao assunto do governo, imagino que as pessoas têm essa ideia por lerem jornais e acreditarem em economistas educados e pagos pelo governo. Mas se a ideia de que se o governo não gastasse rios de dinheiro para manter infraestrutura a sociedade iria colapsar é verdade, podemos dizer, então, que o mercadinho da sua rua é uma utopia dos anarcocapitalistas, certo? Se privatizar exatamente tudo vai gerar desordem, como explicar o sistema de supermercados?

Já viu alguma reunião de fazendeiros para planejar quanto cada um terá que plantar e para quem deverá vender? Já viu donos de mercadinhos pedindo ajuda do governo pra saber se ele deve abrir seu mercado ou fechar? Mesmo assim, já lhe faltou comida em sua mesa por falta de alimentos no mercado? Incrivelmente isso só acontece quando você mesmo não tem dinheiro. E quem é mais interferido pelo estado: o sistema de alimentos do país ou seu dinheiro? Seu dinheiro, claro! E isso se deve porque ele nem é seu, já que ele depende de políticos. Seu dinheiro é regulado pelo estado, e não vale nada. Enquanto isso, todo mercadinho de esquina é anárquico e sem controle, e funciona.

Eleições e keynesianismo

Existem gastos do governo que no papel têm a intenção de fazer escolas, hospitais ou qualquer coisa que seja dita como essencial. No entanto, vou me abster apenas a falar sobre os gastos que são feitos com intenção de gerar empregos ou aumentar riqueza.

Vamos ao caso da construção de uma ponte. Quando chega próximo ao período eleitoral, se aumentam os gastos no sentido de construir coisas visíveis, como um metrô, novos ônibus ou parques bonitos. Quando o político propõe esse gasto, usa um argumento antes da construção e ou depois.

O anterior à construção é de que se a construção não for feita, empregos não serão gerados e pessoas ficarão desempregadas; o posterior a construção é que se não fosse feita a construção, a imponente ponte ou o belo parque não existiriam.

O que o governo faz sistematicamente é fazer problemas para ele mesmo consertar. Como isso? O que o governo faz, como proposto por Keynes, é cavar um buraco onde ninguém pediu pra construir um monte de areia. No processo, ele emprega pessoas e constrói um imponente monte de areia. Mas será que os empresários, quem literalmente são pagos para inovar e buscar oportunidades, são tão burros ao ponto de sempre precisarem de um idiota engravatado para dizer à sociedade o que elas precisavam? Nesse processo, milhões em capital privado é queimado em troca de bons posts nos Instagram dos políticos nos anos de eleição.

O futuro

Mas o pior de tudo é que pensa-se que o governo gasta o que falta no mercado. Se o mercado está em baixa, basta que o governo injete dinheiro na economia. Nesse caso, muitos pensam que para resolver o problema é só o governo se endividar infinitamente, já que a “nação deve a si mesma”. O que maioria das pessoas e muitos economistas não percebem é que aumento de gastos do governo hoje só conseguem ser resolvidos com aumento de impostos amanhã ou com inflações absurdas.

Mais um problema: esses mesmos economistas nunca pararam para refletir sobre o fato de que a inflação, na verdade, é o aumento de impostos a médio ou longo prazo, ou como gosto de dizer: inflação é roubo (inflação como entendida sendo o aumento da base monetária, não a mentira que é contada aos mares).

Os pobres

Vamos pensar, agora, na construção de casas para pessoas em situação de vulnerabilidade. Para construí-las, a aprovação não é muito difícil, basta dizer que é para os pobres. Desta vez, quando estiverem construindo, os construtores estarão ganhando dinheiro todos os meses e alimentando suas famílias; os políticos, fazendo o máximo para mostrar para a população; e esta última, estará passando na rua e vendo as casas se erguendo. Após a construção, todos verão casas lindas, o governo fará uma grande inauguração e os moradores irão mostrar aos amigos as benesses do governo.

É bem fácil para o governo fazer tal façanha pelo golpe visual fácil de ser aplicado. Nem os economistas nem as pessoas comuns sabem ver além do que está sendo mostrado. Se para construir as casas foram despendidos dez milhões de reais, ou foi roubado por meio de impressão ou roubado via imposto. É inteligente pensar que quando se cava um buraco e faz-se uma pilha ao lado, foi criado uma pilha de areia? Completamente não! Só foi, na melhor das hipóteses, transferência de recursos.

O governo nunca (eu disse nunca!) consegue gerar riquezas ou melhorar a vida das pessoas. Ele pode até beneficiar a curto prazo a vida dos moradores das casas ou dos construtores empregados, mas daí existem dois problemas: 1) na construção foram empregados pessoas e recursos que deixaram de ser usados para produzir ouras coisas, como pães, roupas, livros ou o que quer que seja; e 2) o dinheiro usado ali será cobrado, mais tarde, via impostos. 

Às vezes o governo usa dinheiro de caixa para fazer obras, mas na esmagadora maioria das vezes é se endividando, o que será cobrado das pessoas mais tarde; ou então ele imprime moeda e paga, que também será cobrado dos escravos do futuro. O adorado pela maioria dos economistas, Maynard Keynes, certa vez disse: “no futuro estaremos todos mortos”. Hoje ele realmente está, mas nós pagamos o preço de suas más ideias.

O futuro

Por último, um dos ataques que se fazem aos que são contra gastos do governo é que “se não fosse o governo, a iniciativa privada nunca iria gastar quatrocentos trilhões para tirar nove bilhões de brasileiros da miséria. Isso pode até ser verdade, mas de onde veio o dinheiro público? 

Quero dizer, de onde vem o dinheiro de uma quadrilha senão do bolso de um trabalhador honesto? Todo dinheiro do governo veio da iniciativa privada. E será mesmo que os políticos são tão acima da média para saberem alocar recursos melhor que a iniciativa privada? Será que nós, numa democracia, estamos tão longe assim de governos de economia centralizada como eram os russos sob o governo stalinista? 

Claro, não estou colocando os dois regimes em pé de igualdade, mas quero dizer que já houveram exemplos econômicos suficientes na história econômica mundial para os economistas entenderem que não existe nenhuma possibilidade de um governo centralizado monopolizar as decisões de alocação de recursos sem desperdiçar, destruir ou, no mínimo, atrasar a geração de riquezas naturais dos indivíduos pacíficos. 

Na melhor das hipóteses, um governo pode fazer como a criança na praia: tira forçadamente areia de um lugar e coloca no outro sem  ninguém pedir. Mesmo assim, coloque na sua cabeça: gastos do governo significam aumento de impostos, e nunca (nunca!) se pode pensar que o governo gera empregos ou aumenta renda de ninguém. O mercado, e somente o mercado, ao longo de toda a história da humanidade, foi capaz de tirar pessoas da miséria e levá-las à prosperidade econômica.