Chegamos em uma nova etapa do entendimento do capital. Cafiero, neste livro, monta uma forma de escrita como se estivesse acompanhando o capitalista em sua empreitada de exercer dominância sobre as mercadorias. Tendo em vista isso, vamos ao capítulo,
Mercadoria
Nós entendemos no capítulo anterior que o capital se acumula na fórmula Dinheiro – Mercadoria – Dinheiro 1 – Mercadoria – Dinheiro 2. Ou seja, o capital se acumula a partir de uma mercadoria que gera valor ao ponto de conseguir ser comprada por um dinheiro e ser vendida por um dinheiro maior. Quanto mais se pensa em lucrar, mais elástico precisa ser a mercadoria a ser comprada para o aumento do capital. Dito isso, a mercadoria que mais é elástica é simples: o trabalho.
Trabalho
Avistamos o homem do dinheiro. Lá vai ele. Ele anda pela cidade com seu dinheiro assim como um andarilho anda com sua sacola, em busca de algo para se alimentar. O homem do dinheiro busca algo para alimentar seu dinheiro, a fim de que ele cresça sem parar. Como um catador é naturalmente atraído aos fundos de um restaurante em busca de comida ou algo que lhe possa aproveitar, o homem do dinheiro é naturalmente atraído para as fábricas, onde trabalhadores estão prontos para alimentar seu dinheiro.
Lá, ele encontra a mercadoria perfeira: a força de trabalho. Ele não consegue comprar todo o produto inteiramente, já que se fizesse isso de uma vez, o homem trabalhador seria seu escravo. No entanto, o trabalhador aluga sua força de trabalho por algum tempo em troca de sua sobrevivência. Deste modo, ele consegue fazer sua prole crescer e sustentar sua família, e o dinheiro do homem do dinheiro consegue crescer e se multiplicar.
Salário
Tendo vendido parte de sua mão-de-obra para o patrão, tem de ser sabido qual será o preço diário do salário. Sendo assim, é calculado todos os gastos necessários para alimentação, vestimenta, criação e procriação dos filhos. Esse cálculo é feito para uma empreitada de um ano do trabalhador, e depois dividido por 365, e daí se sabe o preço diário do salário.
O tema aqui debatido é onde principalmente se começam as contradições de Marx de acordo com economistas de linhas de pensamento contrária. Sempre que tiver uma opinião contrária, o texto estará em negrito, onde você poderá ir para o artigo com a proposta diferente.
É interessante notar, também, que este é o mesmo tema também muito criticado pelos leitores de Adam Smith, quando o mesmo tenta entender como se dá a formação dos salários. Temos, aqui no site, o resumo do capítulo onde Smith passa por esses mesmos problemas de Marx. Você pode ter acesso clicando aqui.
Marx assinala que, assim como dito anteriormente que uma mercadoria precisa ser trocada pelo exato valor de outra mercadoria, o preço da mão-de-obra deve ser exatamente igual o preço que o trabalhador precisa para comprar as coisas necessárias para sua sobrevivência.
Processo de produção
Voltemos ao personagem de nossa trama: o homem do dinheiro. Lá vai ele, agora que conseguiu contratar seu trabalhador, e só precisa de mais duas coisas: dos insumos para o produto e os meios de produção. Daí se dá o processo de produção: 1) a força de trabalho, 2) os insumos e 3) os meios de produção (fábrica).
Neste momento, Cafiero monta a cena do homem do dinheiro indo contente pôr as mãos à obra. O homem do dinheiro vai à frente, com peito aberto, sendo um homem honesto e religioso. Atrás, o seguindo, vai o trabalhador, tímido e, como uma ovelha que sabe seu destino, o trabalhador segue o homem do dinheiro sabendo seu futuro: ser esfolado.
Nascimento do capital
O homem do dinheiro coloca o trabalhador em seu posto de trabalho e explica como tudo vai funcionar. Ele trabalha, mas ao longo do dia vai tentando entender como tudo funciona e como o patrão ganha dinheiro. Ele faz as contas e tenta fechar a conta, mas ela não bate, e percebe que o homem vendeu o produto, após pagar seu salário, os insumos e o maquinário, por um valor maior que o que ele realmente vale.
E a única mercadoria que é elástica o suficiente para produzir mais do que lhe é pago é seu próprio trabalho. O trabalhador entende, portanto, que o lucro é roubo. Mal ele sabe que aos poucos vai entender que o homem do dinheiro não fica nem um pouco envergonhado por roubar o trabalhador. Marx diz, inclusive, que o lucro é o roubo socialmente aceito.
Bom, se entendemos que nesse processo o homem do dinheiro comprou tudo por, por exemplo, R$ 3.500,00 e vendeu por R$ 3.600,00, sobrou R$ 100,00. Pronto, agora nasce o capital.
Espero que tenha entendido. Te vejo no próximo capítulo.