Resumo: Democracia, o deus que falhou - Capítulo 9

Resumo: Democracia, o deus que falhou – Capítulo 9

Esse capítulo Hoppe mostra como que o livro chegou até aqui; como se estivéssemos em abstrações de problemas da sociedade até o ponto natural da anarquia de propriedade. Agora, iniciando com a cooperação das tribos e indo até a civilização e cultura, ele remonta tudo. Ao final, quando um grupo de pessoas consegue o monopólio da justiça, o estado surge.

Considerações iniciais

Primeiramente, o fato que veio desde Adam Smith com os alfinetes, vem a Ludwig von Mises, que em Ação Humana disserta em pouco sobre a cooperação. É evidente, portanto, que a cooperação é mais produtiva que a produção individual. Se já leu cinco páginas de Smith ou já fez alguma atividade em grupo – contando que haja harmonia e planejamento -, sabe disso. 

O que nos faz ser cooperativos é diferente do que faz abelhas ou formigas cooperarem. Abelhas e formigas o fazem por puro instinto, sem pensar em estratégias ou em possibilidades de desertarem. Diferente disso, o ser humano age.

Todavia, o ser humano é desigual, e essa desigualdade é o que faz ser positivo a empreitada na cooperação invés da produção individual. Assim, a cooperação humana é uma troca voluntária de possuidores de propriedade privada para alcançar um fim mais benéfico para os dois. Por outro lado, os humanos viveriam se digladiando, roubando e matando para conseguir algum proveito disso, quando vemos que não é assim que acontece na realidade. 

Certamente que se todos fossemos iguais, colocaríamos iguais quantidades de trabalho na produção e não conseguiríamos evoluir. Se quiser dizer que a produção fabril é exatamente assim, você está enganado, já que nem todos são iguais: os chefes, coordenadores, auxiliares superiores, etc., são diferentes. 

Aplicação prática

Imagine, por exemplo, que estamos todos perdidos numa ilha. Se todos fossem iguais, não teria possibilidade de continuação de vida ali ou, no mínimo, seria muito mais difícil. Diferentemente disso, se existir alguém bem alto, outro bem forte, outro que se comunica bem, outro que é um nato estrategista, outro que sabe fazer fogo, teremos possibilidade mais que de sobrevivência, mas de progresso. 

Contudo, há, também, na sociedade, os que não tem essa noção de cooperação, e roubam, matam, ameaçam e o que quer que precise para ter vantagens sobre os outros. Certamente que  a sociedade deve puni-los e educá-los para que amenize os problemas sociais causados por essa pequena parcela dos seres humanos. 

Isto é, existem também os que não cooperam, mas ficam isolados em seus cantos e não oferecem ameaças diretas. De qualquer forma, conseguimos ver que existe uma diferença abismal entre a cooperação entre humanos e entre animais.

Tribos primitivas

Atração e repulsão

Dessa maneira, cumpridos tais requisitos, a atração ou a repulsão das pessoas moldará suas relações de afeto e desafeto. Essas são as bases de relacionamentos familiares ou de uma sociedade, já que, por exemplo, a melhor instituição existente na sociedade humana é a com maior impulsão: a família. Em escalas sociais, mais fortes são as sociedades com mais impulsão que repulsão.

Assim, impulsão e repulsão entre famílias se expande até as aldeias ou tribos, sendo essas características que moldam as ocupações geográficas e relações culturais. Seja o contato direto (intercâmbio), seja o indireto (comércio), a relação das diferenciações biológicas e culturais moldam a sociedade. Esta, por sua vez,  traz 1) melhores padrões de vida, 2) crescimento da população, 3) extensão e diversificação da divisão do trabalho e 4) aumento da diversidade e diferenciação.

Ademais, a integração dessas diferentes tribos será feita por pessoas com maiores dons de comunicação, sendo eles voltados para as cidades, onde o comércio é feito e as tribos cooperam para algum benefício mútuo. Dentro dessas cidades se levantarão, também, pessoas com maiores dons de resolver conflitos, que serão juízes ou legisladores. 

No entanto, essa forma e governança não será necessariamente um estado; o estado ainda não existe nesse estágio. Para que haja um estado, necessariamente precisa existir algum monopolista da lei e da justiça. Mas daí seguem duas questões: como alguém conseguiria monopolizar a justiça se os outros juízes se oporiam a essa ideia? E como alguém conseguiria o monopólio da lei com diferentes tribos?

 

Dois passos para o monopólio

Entretanto, neste estágio da presente reconstrução sociológica, vamos apresentar resumidamente, sem explicações mais profundas, alguns passos adicionais necessários para chegar-se a um cenário contemporâneo realista sobre raça, sexo, sociedade e estado.

Um governo central tem tendências à integração e exclusão forçada. Quando o país se estende muito, a distinção entre nativos e estrangeiros ganha forma mais clara. Ou seja, nas áreas urbanas, principalmente, a diferença de etnias, crenças e classes sociedade é mais evidente. No campo, como são mais afastados, tudo é mais homogêneo. 

Isto é, como monopolizador e parasita, o estado precisa diminuir essa distância entre campo e os centros urbanos e, de preferência, facilitar o acesso, construindo estradas ou outros meios de locomoção. Após isso, a integração e exclusão forçada será mais fácil.

Democracia

Para conseguir o monopólio sem um golpe, os juízes apelarão à democracia. Em toda democracia o governante precisa apelar para sua base eleitoral, o que geralmente é de onde ele nasceu ou onde começou sua carreira. Seja Bolsonaro com militares, Lula com guerrilheiros e pobres ou Trump com empresários. Dessa forma, esse apelo servirá de auxilio para as próximas eleições de duas formas: 

  • 1) Primeiramente, atrairão as pessoas que vivem onde ele nasceu, o que atrairá outras classes sociais, etnias, etc. que acham bonitinho ele crescer na vida e não esquecer de onde veio;
  • 2) ou então, por apoio de uma certa classe que tenha certo poder de decisão ou manipulação de pessoas para a conquista de votos, como a grande massa de militares e simpatizantes.

A capital

Ainda mais, a capital comercial dos grupos de tribos que estão juntos, qualquer que seja o vencedor das eleições, será colocada em evidência, sendo a capital politica e/ou administrativa, onde os empresários irão querer aparecer, os políticos vão colocar suas moradias e o foco da mídia estará posto nela. 

Ou seja, a capital terá um olhar mais carinhoso dos políticos por ser onde eles moram e onde a mídia provavelmente estará mais próxima. Em casos como o Brasil e EUA é menos por ser muito grande e ter muitos outros polos, como Rio de Janeiro, São Paulo, Nova Iorque e Los Angeles. 

Um passo para monopólio

Caminhando para o fim, ao passo que a integração forçada se maximize, terão mais pessoas de diferentes tribos se unindo em prol de mamar das benesses do poder público. As maiores merdas da sociedade sempre vêm de cima e depois vai ao povão. A classe média, se unirá cada vez mais com pessoas de grupos diferentes e os casamentos inter-raciais serão cada vez mais comuns. 

Assim, os povos agora não são mais separados e cuidadores de sua própria cultura. Ou seja, um branco e um preto de casam – ou não -, têm filhos e sai o Nego Ney. Nego Ney é branco ou preto? Gabigol é branco da pele escura ou preto do cabelo liso? Abram-se as discussões. De qualquer forma, o que interessa é que agora o apelo dos governantes para apoio político não poderá mais ser sobre etnias ou culturas, mas sobre classes.

Todavia, os príncipes da Europa chegam no Brasil e descem a madeira nas indiazinhas, que têm filhos que não são nem totalmente brancos nem totalmente índios. Mais ainda, os pretos vindos da África pegam os filhos nem brancos nem índios e madeiram também. Como resultado, não se tem mais apelo. As culturas tanto africanas quanto europeias foram totalmente diluídas e formada uma outra muito confusa. 

Não quero dizer que isso é necessariamente um problema, mas o que Hoppe mostra é que agora o apelo não é mais por tribos ou culturas, mas por classes sociais, muito mais fáceis de serem manipuladas.

 

O monopólio

Nesse sentido, a mistura das tribos causará conflitos na sociedade, das quais serão resolvidas por um monopolista da justiça e não agradará as duas partes. Portanto, esses conflitos levarão as pessoas boas da sociedade a saírem dali ou se renderem à barbárie.

A junção de várias tribos enfraquecidas acabará com a paz entre elas e sobrará apenas os burocratas e a escória das tribos. Pode até ser que as tribos tenham suas qualidades individuais, mas juntas forçadamente e com enormes diferenciações étnicas totalmente bagunçadas e culturalmente fracas, fará com que tudo entre em ruina. Hoppe diz: 

“[…] e os membros do submundo e os párias de todas as tribos e raças que nelas vivem, mas que cada vez mais deixam de trabalhar, sobrevivendo com as esmolas assistencialistas estatais. (Apenas pensem em Washington, D. C.)”

Quando se fala de estado, sempre que se pensa que as coisas não podem piorar, “um momento, amigo!”. Além de jogar ricos contra pobres, mulheres contra homens, naruteiros contra pessoas normais, o governo joga membros de famílias uns contra os outros. Invés de, por exemplo, questões como aborto ou uso de drogas serem resolvidos por chefes de famílias ou por grupos pequenos de família, são resolvidos por um parlamento totalmente longe da opinião dos indivíduos.

Nesse sentido, seria o caso de algumas famílias escolherem viver próximas umas das outras por concordarem mutuamente com a defesa de alguns princípios. Ou seja, o parasita monopolista da justiça pega isso para si, decide o que é e o que não é errado e agora um filho pode processar sua família por ser Eldiana (maldito Zeke). (Referência ao mangá Attack on Tittan)

Todos contra todos

Por fim, separo esse espaço para falar sobre o governo colocar pessoas umas contra as outras somente para que, para quem ainda não entendeu, isso fique claro. Portanto, quando falo que o governo coloca rico contra pobre, mulher contra homem e preto contra branco não estou dizendo que exista uma campanha governamental explicitamente dizendo isso. 

Mulheres

Como acabar com os homens e estruir a família? Simples, ele defende as mulheres. Quando uma mulher entra na politica e diz que vai defensores das mulheres, ela o faz supondo que exista alguém que está atacando essas mulheres. O problema realmente existe, e tem que ser resolvido, mas como os governos costumam fazer gera mais problemas. Então ela diz que estupradores são um problema, ela está certa e todos concordam. Assim, leis contra estupradores se fazem e a democracia goza. 

Sutilmente, com outros governos chegando e também querendo ganhar votos dentro da pauta feminina, chega-se ao nível de tantas leis e tanta acusação contra supostos agressores de mulher, que qualquer homem pode ser uma ameaça. A pauta acaba fugindo ao problema legítimo dos estupradores, e a acusação passa a ser que todo e qualquer homem é um problema.

Pronto, agora o homem é perdido, a fertilidade cai, os casamentos duram menos, as culturas são enfraquecidas e agora só sobra o dinheiro. O dinheiro é o que rege homens e mulheres. Filhos são jogados para o lado e as baladas e bares ganham. O político que prometer mais cerveja e menos filhos será o vencedor da maioria das eleições.

Fertilidade

Como o governo acaba com a taxa de fertilidade de uma nação e destrói a família? Simples, ele dá aposentadoria garantida. Antes da aposentadoria pública, as pessoas tinham filhos para que estes garantissem sua aposentadoria quando não pudessem mais trabalhar. Agora podem ser pessoas que curtem a vida sem se preocuparem com a formação de um casamento ou de uma família. Podem vadiar, já que no final da vida o estado bancará sua velhice. Pronto, a taxa de fertilidade das mulheres cai absurdamente e as culturas são deterioradas. 

Uma boa linha de estudos para entender isso é vermos que Roma não caiu por uma super invasão bárbara. Roma caiu porque os romanos não tinham mais filhos, e a cultura romana foi totalmente invadida pelos escravos que tinham muitos filhos. Simples, não? Parece ser bonito querer dar benefício às pessoas, mas no final das contas é o que acontece.

Em outras palavras, no mesmo processo de políticos aumentando os papeis de leis e surfando na onda das eleições – coisa intrínseca da democracia -, chega-se ao ponto de que, para os pobres, ricos são demônios; os ricos, como possuidores de riquezas e por serem taxados de demônios e taxados com maiores impostos, odeiam pobres. Que lindo, né? O que resta agora é só o dinheiro, e é o que guia as pessoas nos dias atuais. A cultura e o espírito não são lucrativos.

Problemas econômicos

Ademais, voltando ao assunto da formação do estado. Quando o governo implanta ou aumenta as medidas assistencialistas, puxando para si a decisão de conflitos relacionados a drogas, aborto, ou qualquer coisa que antes era problema das famílias, esta última é sistematicamente destruída. 

Por exemplo, se a família não pode mais decidir o que é certo ou errado e concorrer com outras famílias com a intensão de dar a melhor educação possível aos filhos amados, o que sobra dela? 

Nesse caso, as pessoas estarão cada vez menos acostumadas a ter boas práticas de relacionamento e não conseguirão resolver seus conflitos, aumentando o divórcio, mulheres ou homens que criam seus filhos sozinhas(os), MGTOW, etc.

Semelhantemente, essas distorções aumentam a criminalidade e as más práticas. Como agora a lei é algo aceito como coisa governamental e não algo pré-existente (algo, portanto, a ser descoberto), o que é certo hoje pode ser errado amanhã. 

Ou seja, as preferências temporais muito altas e o relativismo moral estarão cada vez mais presentes na sociedade. Dessa forma, as cidades, invés de serem centros de civilização, são centros de barbárie, criminalidade e relativismo moral

Conclusão

Em conclusão, podemos dizer que Hoppe não é muito otimista com a mudança da sociedade, mas admite que “ideias, e somente ideias, podem iluminar a escuridão” (citação de Ludwig von Mises). Assim, intelectuais e pessoas de almas com vontade de sair da escravidão devem mudar essa situação. 

No entanto, civilização e cultura têm bases genéticas. Com todos os problemas aqui ditos, a base genética das pessoas está cada vez mais corroída e mentes brilhantes são casa vez mais escassas. Mas nem tudo está perdido. Enfim o autor termina o capítulo dizendo o seguinte:

“Contudo, mesmo que tudo isso não nos dê muita esperança para o futuro, nem tudo está perdido. Ainda há alguns focos de civilização e de cultura – não nas cidades e nas áreas metropolitanas, mas sim nas áreas rurais centrais (no campo). Para preservá-los, alguns requisitos devem ser preenchidos: o estado – o monopólio da justiça – deve ser reconhecido como a fonte da descivilização: os estados não criam a lei e a ordem; eles as destroem. 

Os lares familiares e as famílias devem ser reconhecidos como a fonte da civilização. É essencial que os chefes de família (de lares familiares) reafirmem a sua autoridade máxima como juízes de todos os assuntos familiares internos. (Os lares familiares devem ser declarados territórios extraterritoriais – assim como as embaixadas estrangeiras o são.) 

A segregação espacial e a discriminação voluntárias devem ser reconhecidas não como coisas ruins, mas sim como coisas boas que facilitam a cooperação pacífica entre diferentes grupos étnicos e raciais. O assistencialismo deve ser reconhecido como uma questão exclusiva das famílias e da caridade voluntária; e o estado assistencialista (de bem-estar social) deve ser reconhecido como a subvenção da irresponsabilidade.”

Espero que tenha gostado. Te vejo no próximo capítulo.